O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Algo como um poema: Do livro O palco e o mundo

ouvir, em arte, nunca foi um fenômeno fisiológico, disse Mário de Andrade.

(nunca escrevi música para ser ouvida. mas para ouvir o corpo. assim, passei a aplicar tatuagens com trechos de minhas partituras.
sei que, em determinadas festas, enquanto todos dançam, em alguns pares e trios e quartetos minhas notas estarão se combinando, e será essa nova composição que eles estarão dançando, e não a que ouvem, que, se traz o movimento ao corpo, nunca é o corpo do movimento
como é vulgar escrever para ser ouvido! as tatuagens com trechos de minhas músicas podem infeccionar. enquanto gritam de dor e aprendem que toda nota solitário é um grito ou moléstia, a pele que se desfaz sabe, silenciosa, que o gênio destrói as aparências. e, se um braço se perde, esse membro será capaz de tocar a música absoluta
música. sei que, ao fazerem amor, estarão combinando minhas notas para criar não um filho, mas a minha música. incentivo a infidelidade e o sexo grupal entre os tatuados: prefiro a polifonia. o sexo não desmente que a arte sempre foi um fenômeno fisiológico

é verdade que, com a morte, vão-se o executante e a própria música; está certo. nunca acreditei que, sendo um corpo para os ouvidos, ela pudesse durar mais que o homem)

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