O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Violência em Pinheirinho II: Meios de comunicação e os caminhos dos protestos


No dia seguinte ao ato em São Paulo de apoio a Pinheirinho, que relatei aqui, o jornal Folha de S.Paulo publicou matéria no estilo Diário Oficial do Estado sobre a destruição da comunidade de Pinheirinho. No tocante à manifestação na Paulista, apenas uma foto e uma legenda afirmando que ela continha apenas cem pessoas. Como leciono habitualmente para turmas de setenta alunos, posso declarar que o jornal está errado e que havia bem mais gente, apesar de a passeata ter sido convocada em pouco menos de três horas.
Por sinal, aconselho a ver as fotos de Thiago Miranda dos Santos Moreira.
O Estado de S.Paulo fez uma cobertura bem superior do evento, calculando em 500 participantes, e revelou que a moça que carregava o cartaz "Quando morar é um privilégio, ocupar é um direito." era a estudante de Psicologia Camila Santos.
Parabéns para ela, que mostrou um entendimento do direito à moradia bem superior ao do Tribunal de Justiça de São Paulo.
O jornal também deu o destaque acertado à declaração de Ophir Cavalcante, em nome da OAB, de que a ação havia sido ilegal. E incluiu uma declaração no mesmo sentido do poeta e professor de Filosofia do Direito da Facamp, Tarso de Melo (também meu amigo). Tarso, por sinal, estudou e publicou sobre a função social da propriedade.
Os grande meios de comunicação, aparentemente, não se mostraram pressurosos a protestar contra o bloqueio contra jornalistas feito pela Polícia Militar na região.
Os pequenos não são necessariamente melhores em termos de crítica ao poder (vejam este exemplo, que finge não haver presos políticos em Cuba), mas alguns buscam furar o bloqueio policial e exercer dignamente o jornalismo. E há quem consiga, fora da imprensa, documentar de forma independente ações abusivas da polícia de São Paulo.
Não tenho tevê, mas li comentários de pessoas chocadas com certa cobertura dos acontecimentos - emissoras que, em vez de irem atrás da notícia, ficam na frente dela, acobertando-a. Este vídeo parece ser mais fiel ao que ocorreu:
http://www.youtube.com/watch?v=NBjjtc9BXXY
Ele foi realizado pelo Coletivo de Comunicadores Populares; a filmagem e as entrevistas: Cristina Beskow, Yan Caramel, Gabriel de Barcellos, com edição de Jefferson Vasques. No final, ouve-se uma declaração oportuna sobre "ditadura".
Como se dá à resistência a essa ordem de coisas? Ainda é possível a via judicial. O Ministério Público Federal, eu ignorava até descobrir pelo Twitter, propôs ação contra a Prefeitura daquele município por omissão no atendimento à população de Pinheirinho. Como se sabe, a Prefeitura acabou agindo, mas não no sentido que o MPF desejava: a Guarda Municipal ajudou a Polícia Militar a atacar aquela população.
Outra notícia é que a Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais de São José dos Campos propôs mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal contra a desocupação. Provavelmente o tribunal vai agir depois do fato consumado.
Há outras vias além da judicial, evidentemente. Numa ação virtual, foram derrubados no dia 24, ontem, mais ou menos às 22 horas, os portais do governo do Estado de São Paulo e do Tribunal de Justiça de São Paulo, e não as autoridades correspondentes.
E lembro que dia 25 é um dia de protesto físico em São Paulo no aniversário da cidade:

Grande ato ESPECULAÇÃO EXTERMINA: BASTA DE TREVAS NA LUZ E EM SÃO PAULO!
Concentração a partir das 8h, na Praça da Sé.
Caminhada rumo ao Pátio do Colégio, onde Alckmin e Kassab estarão, por volta das 10h.
Atividades culturais (10 grupos de teatro confirmados, música hip hop, dança) na Luz no período da tarde (a partir das 13h30).


Se a imprensa (en)cobrirá a manifestação, não sei. Sei que já somos mais de trezentos, mais de trezentos e cinquenta, e pisamos a terra como quem descobre nas esquinas o furto da cidade.

P.S. Merece destaque esta matéria do jornal The Guardian, escrita por Rodrigo Nunes, The fight against Brazil's Pinheirinho eviction can be an inspiration, em que analisa como a esquerda tem sido em geral pouco crítica em relação às desocupações forçadas no Brasil (e ao governo de Dilma Rousseff), e como as redes sociais estão sendo usadas para furar o bloqueio da grande imprensa.

P.S. 2: A manifestação em Florianópolis a favor de Pinheirinho foi adiada e será amanhã, dia 26 de janeiro, na frente do terminal de ônibus do centro, o TICEN, às 18hs.


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