O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Lançamento da Telhados de Vidro com traduções de Kleist

 Para quem estiver em Lisboa, lembro estes dois eventos do Bartleby Bar de Manuel de Freitas: inaugura-se exposição de Alvaro Aldrovandi e lança-se novo número de Telhados de Vidro, o 16, de abril de 2012.
Entre os textos do livro, está o primeiro poema de meu livro inédito Cálcio. Outros autores brasileiros presentes são Fabio Weintraub e Fabiano Calixto.
Na revista há um autor português sobre quem escrevi, Jorge Roque, e também Fernando Guerreiro e Manuel de Freitas, que estão entre meus favoritos.
No entanto, destaco que Telhados de Vidro publica uma série de anedotas e histórias breves de Kleist, traduzidas por Bruno C. Duarte.
Kleist, uma das leituras preferidas de Kafka, tinha um olhar muito arguto para as questões da justiça.  Em "Estranho caso judicial na Inglaterra" temos, em miniatura, uma história bem típica de Kleist, na qual um homem decide tornar-se jurado de um crime que ele mesmo cometeu.
Outra delas, "O magistrado embaraçado", soa como se tivesse sido invertida por "Diante da lei" de Kafka (não sei se o escritor tcheco foi inspirado por esta história e resolveu escrever-lhe o negativo): o personagem, em Kleist, afirma querer a lei, ela não é aplicada (como jamais era, e sim o costume), e isso o salva tanto da lei, que o condenaria à morte, quanto do costume, que o multaria. Há uma imaginação jurídica emancipatória em não adentrar as portas da lei.
Outra inversão pode ser verificada no fato de que o vigia seria condenado em Kleist, enquanto em Kafka esse é o personagem (análogo ao porteiro) que veda o acesso à lei.
Em artigo, Rodrigo de Campos de Paiva Castro vê uma inversão entre Michael Kohlhaas de Kleist e O desaparecido de Kafka: "Ao contrário do protagonista kleistiano, que triunfa por meio de sua derrota, mas ainda assim triunfa [...], o personagem kafkiano incorpora em si, com toda a sua força, o primado do fracasso." Talvez o mesmo se possa ver naquelas duas pequenas histórias - e a de Kafka, deve-se lembrar, foi publicada por ele em vida como um texto curto independente, mas é parte fundamental do romance postumamente lançado O processo, sobre o qual a literatura já produzida é quase tão infinita quanto o número de porteiros que veda o acesso à lei...
As traduções de Bruno C. Duarte ampliam as portas para Kleist.

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