O palco e o mundo


Eu, Pádua Fernandes, dei o título de meu primeiro livro a este blogue porque bem representa os temas sobre que pretendo escrever: assuntos da ordem do palco e da ordem do mundo, bem como aqueles que abrem as fronteiras e instauram a desordem entre os dois campos.
Como escreveu Murilo Mendes, de um lado temos "as ruas gritando de luzes e movimentos" e, de outro, "as colunas da ordem e da desordem"; próximas, sempre.

sábado, 9 de março de 2013

Anistia


o sêmen dos militares
encontra a paz nas prisioneiras;
da cátedra que encimo afirmo-o;
nenhum crime de guerra
se o gozo é derramado
em corpo inimigo;

também nos homens prisioneiros
o sêmen dos militares
não sofre desperdício,
em qualquer inimigo ele gera
o que é nosso país;

(nenhum crime de guerra
quando tudo é guerra
e todos os corpos são políticos,
sobre ou sob as botas)

o sêmen poderia não saber,
mas quando foi derramado no inimigo
cometeu um crime político;
o que dele nascerá? a anistia,
vejo-a da minha cátedra,
tomo-a em meus braços
e limpo-lhe o sangue com meus artigos
de catedrática federal;

o sêmen talvez não quisesse,
mas assumiu o resultado:
derramou-se
e neste país
só na queda há política;

o sêmen talvez não soubesse
mas o corpo violado
tinha consciência de que tornava políticos
os líquidos, as lâminas, as liminares, os ratos
sobre ele arremessados,
a dolosa consciência de tornar políticos
até mesmo os ares que lhe faltaram para a confissão final;
por essa razão, o ar empesteado
nos quartéis, pulmões do país
onde o estrangulamento é a voz;

na qualidade de catedrática federal
decreto a perpetuidade da pena capital
ao corpo
que, aberto, deixou escapar a política
e sujou meus artigos
com sangue e outros líquidos,
sujou a palavra anistia
cujo sentido agora me foge

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